“Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve.”
Era apenas uma mulher solitária, defendida dos abandonos da vida. Havia criado pra si uma redoma de nuvem, onde apenas ela e suas letras habitavam. Os livros eram seus confidentes, suas férias, suas viagens encantadas e seus melhores amigos. Os únicos parceiros cujo enlace não era passível de adeus, sem a sua conivência e permissão. Fazia deles, sua âncora existencial.
Habituou-se a usar palavras como escudo e silêncio como moradia. Afastou-se do mundo chamado de real, para habitar outros tantos…amores, tragédias, dores e alegrias. Era apenas uma menina cansada de apanhar. Refugiava-se entre páginas e não precisava dormir para sonhar. Seus apegos trocaram de lugar quando percebeu que os livros eram melhores em lhe mostrar caminhos do que as pessoas, que volta e meia resolviam embrutecer seu mundo.
Tinha alma de árvore…amava brisas e semeava-se com os ventos fortes. Sorvia tempestades com a alegria das marés que se reencontram…tinha sede de fincar raízes profundas num lugar só, onde o balé das folhas fizesse contraponto com seus silêncios. Para olhos dos outros pareceria arredia, esquisita, deslocada, mas por dentro, escorria incêndios…reconhecia-se lava, sabia-se destrutiva quando amarga.
Recorria às palavras para salvar-se. Palavra escrita ou dita…maldita transformação perene. Fazia-se folha em branco entre suspiros. Pedia um pouco mais de respiro antes de desfalecer. Cortar raiz para se multiplicar, na tentativa confusa de existir um pouco mais…
*Este post é parte integrante do projeto “Caderno de Notas – Quarta Edição”, do qual participam as autoras Aurea Cristina, Claudia Costa, Fernanda Farturetto, Lunna Guedes, Maria Cininha, Mariana Gouveia e Tatiana Kielbeman
Minha menina, meu amor… meu espelho…
Linda descrição!
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Gosto quando o mundo se ausenta e o que fica são as certezas que colecionamos através dos livros que lemos.
bacio
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Minha menina linda,
Mário Quintana disse que “um bom poema é que aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente, e não a gente a ele”. Pois, ao ler seu texto, tive a impressão de que estava me lendo em cada parágrafo. Você é palavra suficiente para salvar qualquer alma de si mesma. Xero da fã!
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Obrigada por me emprestar seus olhos em forma de palavras. Seu olhar é imprescindível para que eu siga escrevendo e vivendo.
Te amo de longe, mas o carinho vive muito perto.
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