Mães e filhas: mais que amor, histórias de vida

Só podemos entender o outro nos colocando em seu lugar,
e mesmo assim imaginaremos o que eles sentem
e jamais sentiremos a mesma dor ou alegria”.

(Rosana Gabriel)

Nada como o tempo, esse senhor modificador de cenários, vidas e sentimentos, para nos fazer atentar sobre assuntos além de nossa própria existência. É movida por ele e pelo seu caminhar natural – que me traz, eventualmente, perdas disfarçadas de aprendizados – que, hoje, divago sobre gerações.

Levei pouco mais de vinte anos para conseguir aliviar meu olhar de filha sobre minha mãe. Como assim? Explico: sou a primogênita e, por cinco parcos anos, consegui ser filha única. No meu caso, não adiantou grande coisa, por ter primos com a mesma idade, o que, na minha lembrança, provavelmente me usurpou a possibilidade de ser mimada e babada como “única”.

Nem por isso, cresci menos sedenta da atenção materna, muito pelo contrário… ansiava por ser merecedora dos holofotes castanhos de mamãe e, à medida que não vinham [pelo andar natural dos dias, que obviamente solicitavam-na para trabalhos diversos], fui, sem perceber, insuflando-me de espaços vazios, que me esmerei em preencher com culpas ineficazes.

Por longos vinte e poucos anos, disputei, sem perceber, uma atenção que sempre imaginava ser dada a coisas outras. Até que um dia… a pessoa que vos narra trouxe à vida uma menina. Que parto!! Apaixonar-me por um ser que, a despeito do meu amor e de toda minha ginástica emocional, ainda era capaz de berrar horas a fio ou, uns aninhos depois, fazer-me sentir como se nada do que lhe desse seria suficiente…

Mulher… que incrível ser é esse que tem o dom de estabelecer, para si, metas surreais de autorrealização?!

Entre uma mãe e uma filha há tanta coisa… O carrasco da ilusão de que não há limites de compreensão, amor, delicadeza, continuidade, resgate, carinho e infinitos outros. Nada nem ninguém nos prepara para os conflitos, as incertezas, as raivas reprimidas [ou não].

Quando a história entre mães e filhas torna-se permeada por estranhamentos, em decorrências de diferenças, sejam de personalidades ou de projetos de vida, a razão e a psicologia nos dizem não haver vítimas ou algozes, por mais que nosso emocional ansioso e “culpado” nos deixe um tanto deprimidas e/ou frustradas.

Por aqui, o tempo e as perdas que me trouxe deixaram uma “nota mental” de que é preciso aproveitar a experiência, respirar fundo ante as discordâncias, aprender o que for possível e relevar o restante, se não por “nobreza espiritual”, ao menos para amenizar em nós as tais culpas quando a hora da despedida se apresentar, posto que esta, sim, é a única certeza possível.

3 comentários sobre “Mães e filhas: mais que amor, histórias de vida

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