O tempo mudou de rotação. A vida pirou completamente e eu, que antes era meio louca, agora me vejo quase sã num mundo de loucos medicados e outros (sem remédio?) senhores de verdades únicas e absolutas.
Cansei! Cansei pra valer. Alguns chamam de depressão, outros de preguiça, falta de vergonha na cara, a medicina arruma mil nomes de doença e nada disso me parece real, nada disso me parece minimamente perto de ser verdade. Já passei por depressão algumas vezes e percebo uma diferença abismal. Ultimamente, a pouca tristeza que me permeia é externa e vem dos barulhos do mundo lá fora. Aqui dentro, vivo de remoer uma ou outra frustração, mas elas quase não falam. Aqui dentro há mil crenças, zilhões de sentimentos calados, abraços não dados, corridas não feitas. Há respirações profundas, paciência e auto perdão sendo cultivados como sementinhas recém plantadas.
A mente, volta e meia, sai pra passear. Fica vagando por horas ou minutos, assiste mil coisas que aos poucos vai liberando. Minha mente fugiu de casa por não aguentar o peso da realidade, por não saber conviver com todas as regras e necessidades da vida capitalista moderna, pela total incompetência em competir com meus iguais.
O corpo dói. Às vezes uma dor suportável, onde risos e trabalhos conseguem existir e se sobrepor, em outras, a dor é tanta que anestesia a existência e me carrega pra um mundo do qual não lembro.
Viver é simples, a gente é que complica tudo com ilusões variadas e competições mesquinhas e muito bobas. A maior parte do tempo, consigo rir dessas bobagens sérias da vida cotidiana, outros tempos, sou contagiada e fico ácida, arredia.
Respiro.