“Quando o amor para de um dos lados, o relógio intelectual morre. Não se vive desprovido de gentileza. A gentileza é o amor em movimento.”
– Fabrício Carpinejar –
Essa foi uma semana privilegiada por conversas instrutivas. Fabrício, Cortella, Nietzsche, Martha, Mia e alguns outros nomes de acolhimento encontraram-se comigo e algumas alunas para um bate-papo interessante acerca de tolerância – que nosso querido Cortella prefere chamar de “acolhimento” -, intolerância e outros temas tão em voga, nesses dias de discussões políticas e ideologias acirradas.
Para começo de conversa, não tratamos de papos políticos, nem nada do gênero. Tratamos do olhar e da forma como o exercitamos. Para você que chegou em minhas letras agora, vou contar que tenho essa mania-necessidade de exercitar a forma de olhar, a vida, os outros, os bichos e tudo que chega de encontro às minhas retinas ou ouvidos. Sim, o que ouço transformo em pensamento, e os meus são uma grande tela à espera das cores para pintar os quadros internos. Mas, cadê a esperança deste texto? Respire fundo…inspire devagar e deixe o texto entrar em você. Acolha os desenhos destas letras e forme seu próprio quadro mental. É aqui que a esperança e o amor se encontram. Nesse seu pequeno exercício.
Confesso que tenho certo déficit de esperança quando os assuntos são os mais gritantes para nossa sociedade. Ao longo da vida não consegui alimentar ambições e não sou “carnívora”. Nego-me a debater com o coleguinha de ideias inflexíveis, seja lá qual for o tema. Amo quando as opiniões do outro encontram abrigo entre minhas convicções. Acho o máximo! Mas é raro…Geralmente me assusto com a voracidade alheia em defender com dentes, unhas e objetos afiados suas ideias e isso, meu caro leitor, é de dar uma preguiça de ouvido que nem lhe conto!
Ops, divaguei…perdão. Voltemos à esperança. Depois de muitas conversas ao pé das letras, com os amigos citados, e alguma finalização de arte com as alunas amigas, demos as mãos e concordamos que, sem esperança, não há vida. Sem esperança, a generosidade definha, tornamo-nos avarentos e mesquinhos dentro de nossa ideia inflexível. Somente a NOSSA é a real e aceitável, tudo em volta torna-se o “inimigo”. Quando nos falta esperança, entramos em estado de sítio, ficamos incapacitados de entender um amigo, por pura ambição. Objetivamos ter uma razão de ditadura, uma poupança alimentada por nossa mesquinharia emocional.
Esperança, meus lindos leitores, é acreditar na calma, na certeza dos dias que nascerão e na tranquilidade de que não é preciso acertar sempre. Esperança é plantar ideias, sorrisos, afetividade, mesmo em solo arenoso. É quase como crer em milagres. Nos milagres diários, cultivados na psique e no coração do coleguinha super sábio de todas as coisas. É entender que não é necessário fazer do conhecimento um fator limitante, mas, ao contrário disso, procurar a sapiência nas palavras do outro, procurar na diferença a brecha para um novo entendimento, algo que some ao nosso acervo pessoal.
Acredite [ou não], até os mais simplórios e menos estudados contêm um saber diferente do seu e que, se você permitir, pode ser bastante útil e interessante. Creio que seja isso que nosso filósofo Cortella chame de acolhimento. Abrir brechas no seu saber para incorporar um pouco da ideia do outro. Carpinejar me contou que esperança é educação e, embora nunca tivesse olhado dessa forma, concordei e acolhi esse conceito. Quando a esperança acaba, resta a raiva e o alimento passa a ser o ressentimento. Quase tudo se torna arma e farpa pessoal. A esperança é perceber que haverá outro dia, as ideias vão mudar, porque esse é o ritmo da vida: movimento, mudança. Nós não respiramos duas vezes o mesmo ar.
A esperança torna a vida melhor, abre-nos as portas da mente, abre a liberdade de cometer o mesmo erro, porque entendemos que a vontade de seguir em frente é maior que os julgamentos e sentenças alheias. Experimenta a esperança quem crê no perdão de si mesmo.
Convido você ao exercício proposto. Crer no ritmo da oxigenação, na vida no seu ritmo, no respeito ao seu tempo. Quero ver o brilho nos olhos renovados pelo novo. Convido à teimosia de existir acolhendo sua própria alegria, deixando de lado quem não entende de sorriso. Seguir acreditando em si, entendendo que o erro de antes pode ter sido a janela se abrindo para o acerto do agora. Acreditar que amar é acolher, é continuar sendo até acertar a companhia.